FM - Faculdade Mental

MARILENE CAROLINA - 18/06/2007

19 DE JUNHO: ANIVERSÃRIO DE CHICO BUARQUE

EUROPA VISTA DO CÃ‰U VI

Para curtir a velha Europa, que ainda nos oferece muita coisa bonita. SÃ³ podia ser na coluna da Marilene Carolina, assÃdua freqÃ¼entadora do velho continente.

Gamla Stan, Estocolmo, Suecia. Veja foto!

(ColaboraÃ§Ã£o: A.M.B.)

OlÃ¡ meus amiguinhos e minhas amiguinhas,

Apesar de todos os meus cursos de graduaÃ§Ã£o, pÃ³s-graduaÃ§Ã£o, mestrado, pÃ³s-mestrado, doutorado, pÃ³s-doutorados e outros tantos cursos de especializaÃ§Ã£o, eu tambÃ©m tenho Ãdolos. Eu sou fÃ£ de "carteirinha" de um dos maiores compositores de toda a histÃ³ria de nosso paÃs: Francisco Buarque de Hollanda.
Nessa semana, o "Chiquinho" (para os amigos, nÃ©, Chico Buarque?) completou mais um "aninho" de vida e eu gostaria de prestar uma pequena homenagem a esse Ãcone da MÃºsica Popular Brasileira (MPB), ainda mais sabendo que muitos de meus aluninhos e aluninhas nÃ£o devem conhecer a obra desse fabuloso artista.

19 de Junho: AniversÃ¡rio de Chico Buarque
Reconhecidamente o melhor poeta do time surgido nos festivais de mÃºsica popular, encarnou o Brasil em suas canÃ§Ãµes. Ao mesmo tempo, os brasileiros viram seus horizontes mudarem com a mÃºsica de Chico.
Francisco Buarque de Hollanda nasce em 19 de junho de 1944, na cidade do Rio de Janeiro. Quando estÃ¡ com dois anos, sua famÃlia se transfere para SÃ£o Paulo. Tanto seu pai, o historiador SÃ©rgio Buarque de Hollanda, como sua mÃ£e, Maria AmÃ©lia, gostavam de tocar piano e cantar com os amigos, entre eles VinÃcius de Morais. Estuda violÃ£o com sua irmÃ£ MiÃºcha e, influenciado por JoÃ£o Gilberto, comeÃ§a a fazer suas primeiras composiÃ§Ãµes. Cursa atÃ© o terceiro ano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
No final dos anos 1950, Chico ouviu a voz e a bossa nova de JoÃ£o Gilberto na composiÃ§Ã£o de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Ele nÃ£o sabia, mas aquela mÃºsica influenciaria os rumos de sua futura vida artÃstica. Aquela mÃºsica misturava o molejo do morro e uma certa sofisticaÃ§Ã£o do jazz. Era a contribuiÃ§Ã£o brasileira para a modernidade da mÃºsica. Era a criatividade do Brasil mostrando novos caminhos. Era Chico ouvindo atÃ© vinte vezes por dia Chega de Saudade. Era o Brasil de Juscelino Kubistchek, de BrasÃlia, de Oscar Niemeyer, da delicadeza do homem cordial. E foi essa mistura que transformou-o no Chico brasileiro, capaz de reunir a poesia ao futebol, a feijoada Ã mÃºsica, a solidariedade ao bom humor.

A letra de "Roda Viva" Ã© um esplendor. Confiram:

Roda Viva
ComposiÃ§Ã£o: Chico Buarque

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo entÃ£o que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prÃ¡ lÃ¡ ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda piÃ£o
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coraÃ§Ã£o

A gente vai contra a corrente
AtÃ© nÃ£o poder resistir
Na volta do barco Ã© que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que hÃ¡
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prÃ¡ lÃ¡

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda piÃ£o
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coraÃ§Ã£o

A roda da saia mulata
NÃ£o quer mais rodar nÃ£o senhor
NÃ£o posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prÃ¡ lÃ¡

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda piÃ£o
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coraÃ§Ã£o

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusÃ£o passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz forÃ§a pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva

Que letra, hein, crianÃ§as? Ela tem um chÃ£o histÃ³rico especÃfico (1967/1968), ou seja, os obscuros anos da ditadura. Ã‰ desse tempo que ela data e Ã© o que esse tempo representou para a experiÃªncia brasileira que ela aborda. A composiÃ§Ã£o de Chico se originou em meio ao turbilhÃ£o da instauraÃ§Ã£o da ditadura militar no Brasil. Ditadura que representava, para a cultura, simplesmente o fim da liberdade de expressÃ£o. Um meio muito utilizado na Ã©poca para driblar a censura foi a metÃ¡fora, o despistamento, a linguagem figurada, a cifra. Alguns escritores e jornalistas falavam aparentemente de flores e rouxinÃ³is, quando estavam se referindo Ã situaÃ§Ã£o polÃtico-social brasileira.
O que Ã© roda-viva? Roda-viva Ã©, conforme os dicionÃ¡rios, movimento incessante, corrupio, cortado; Ã© ainda confusÃ£o, barulho. O texto menciona aÃ§Ãµes frustradas pela roda-viva.
Na letra a roda-viva estÃ¡ associada Ã morte, ao contrÃ¡rio do que indica a palavra. A roda ceifa, arranca aquilo que ainda estÃ¡ em desenvolvimento: a gente estancou de repente. A gente parou (de crescer) de repente. Note-se como Ã© expressivo o uso de estancar, que nos faz lembrar imediatamente de sangue. Somos abortados na capacidade de decidir o prÃ³prio destino, de adquirir autonomia como um rio Ã© barrado, como um fluxo de sangue Ã© estagnado.
Esses movimentos descritos na letra sÃ£o, portanto, de trabalho em curso e de sucessiva frustraÃ§Ã£o. Isso descreve muito a experiÃªncia brasileira, tanto do ponto de vista social e polÃtico como do ponto de vista cultural. Quando estÃ¡vamos comeÃ§ando a engatinhar na democracia, Ã© instalado o regime totalitÃ¡rio, para o qual nÃ£o existem indivÃduos. Sufoca-se atÃ© a saudade (jÃ¡ cativa) de outros tempos.
Mas esse ambiente de tanto mal-estar foi filtrado por Chico Buarque com muita cautela: era preciso despistar a censura, daÃ a profusÃ£o de rodas e de versos encantatÃ³rios; era preciso dizer a verdade, daÃ o tumulto e a sensaÃ§Ã£o de frustraÃ§Ã£o advinda da mesma profusÃ£o de rodas, que dirÃamos serem antes de trator. (Fonte de pesquisa: Almanaque Brasil; Cultura; Internet...)

ParabÃ©ns, Chico! ParabÃ©ns, Chiquinho! Muito obrigado por sua obra!

Meus queridos e minhas queridas! Escrevam para mim, mandem e-mails... Eu adoro receber e-mails. Ah! E nÃ£o se esqueÃ§am, podem me "interpelar" Ã vontade... TambÃ©m adoro ser interpelada... (rs)

Beijinhos,

Marilene Carolina

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